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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Povo invisível...


Refúgio e Bodhicitta, os Quatro Pensamentos que Transformam a Mente, as Quatro Qualidades Incomensuráveis e as Seis Paramitas.

Folha da árvore boddhi
REFÚGIO E BODDHICITTA

SANG DJE TCHO DANG TSOG TCHI TCHOG NAM LA DJANG TCHUB BAR DU DAG NI TCHIAB SU TCHI
No Buddha, no Dharma e na excelente assembléia da Sangha, até que alcance a iluminação, neles eu tomo refúgio.
DAG GUI DJIN SOG DJI PE SOD NAM TCHI DRO LA PEN TCHIR SANG DJE DRUB PAR SHOG
Através da minha prática das Seis Perfeições, possam todos os seres sencientes alcançar o estado búdico.
(repetir 3 vezes)

OS QUATRO PENSAMENTOS QUE TRANSFORMAM A MENTE

Homenagem! Ó Lama, protetor infalível e constante, você que conhece.
1- As liberdades e dotes do nascimento humano são extremamente difíceis de serem conseguidos.
2- Todo aquele que nasce é impermanente e fadado a morrer.
3- As ações virtuosas e as prejudiciais causam seus resultados inevitáveis.
4- A natureza dos três reinos da existência cíclica é um oceano de sofrimento.
Lembrando-se disto, possa a minha mente voltar-se para o Dharma.


AS QUATRO QUALIDADES INCOMENSURÁVEIS – (sânscrito: Apranāma)


1- COMPAIXÃO. [do lat. compassione.] S. f. Pesar que em nós desperta a infelicidade, a dor, o mal de outrem; piedade, pena, dó, condolência. MAITRI / BYAM-PA
2- EQÜANIMIDADE. [do lat. aequanimitate.] S. f. 1. Consideração de que todos os seres são igualmente importantes 2. Igualdade de ânimo tanto na desgraça quanto na prosperidade. 3. Serenidade de espírito, moderação. 4. Eqüidade em julgar, imparcialidade, retidão. UPEKSA / TANG-NYOM
3- AMOR. (ô). [do lat. amore.] S. m. 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem ou de alguma coisa (...) 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser ou a uma coisa; devoção (...) afeição, amizade, carinho, simpatia, ternura, cuidado, zelo. METTA
4- REGOZIJO. [do espanhol regocijo.] S. m. Gozo intenso; vivo contentamento ou prazer; grande satisfação; alegria; contentamento; congratulação. MUDITA / GA-BA


AS SEIS PARAMITAS


1. GENEROSIDADE - “DJINPA” (tib.) "DANA" (sânscr.), [do lat. generositate.] doação, oferenda, presente, dom, prodigalidade, donativo, dádiva, mérito, merecimento, poder, virtude, privilégio. Doação de bens, riqueza pessoal e corporal. É consumada com a oferenda de intenção, esforço, do material oferecido e a dedicação do mérito. Inclui todas as formas de doar e compartilhar o Dharma.

2. DISCIPLINA MORAL OU ÉTICA – “TSULTRIM” (tib.), "SILA" (sânscr.). [do lat. disciplina.] regime de ordem, relações de subordinação do aluno ao mestre; observâncias de preceitos ou normas; submissão a um regulamento; ensino, instrução, educação; refrenagem de má-conduta; obediência. Compromisso de evitar a comissão do mais leve dano aos outros; exame escrupuloso da mente arrefecendo até o mais sutil impulso à não-virtude antes que este se traduza em ação de fala ou de corpo; manutenção de um discernimento afiado entre o que aceitar e o que rejeitar como ações apropriadas de corpo, fala e mente; conduzir-se de acordo. Abandono das ações não-virtuosas, juntamente com seus fundamentos. Praticamos ao pensar e agir puramente, ao abandonar pensamentos negativos e plantar sementes positivas, ao dedicar mérito e fazer preces de aspiração para beneficiar todos os seres, inclusive demônios e entes negativos. Elimina todas as paixões maléficas através da prática dos preceitos de não matar, não roubar, não ter conduta sexual inadequada, não mentir, não usar tóxicos, não usar palavras ásperas ou caluniosas, não cobiçar, não praticar o ódio nem ter visões incorretas.

3. PACIÊNCIA – “DZOPA” (tib.) "SHANTI" (sânscr.), [do lat. patientia.] virtude que consiste em suportar as dores, incômodos, infortúnios, sem queixas e com resignação. Tolerância em face ao tratamento abusivo dos outros, tolerância ao sofrimento em favor do dharma e firmeza ao ouvir os ensinamentos. Reconhecer que as condições negativas surgem exatamente de acordo com o karma de cada um – e que, no seu próprio surgimento, essas causas kármicas estão sendo purificadas. Esperar que a dificuldade se vá. Trabalhar cada dificuldade à medida que surge. Capacidade de suportar dificuldades. Exercitamos quando encontramos dificuldade em nossa prática, ao visualizar, ao manter a concentração, ao agir cuidadosamente e corretamente. Quaisquer que sejam as circunstâncias permanecemos pacientes. Pratica a abstenção para prevenir o surgimento de raiva por causa de atos cometidos por pessoas ignorantes.

4. PERSEVERANÇA JUBILOSA OU DILIGÊNCIA – “TSONDRÜ” (tib.), “VIRYA” (sânscr.) [do lat. perseverantia.] pertinácia, constância, firmeza, persistência, prosseguimento, continuação, permanência, continuidade. Diligência, valentia, entusiasmo. Continuar até o completamento não importando quantas dificuldades surjam em sucessão. Empenho. Ímpeto. Transcendência da inércia, da preguiça e do sentimento de opressão. Disposição para praticar ações virtuosas. Lembramo-nos da preciosidade desse corpo humano e dedicamos nossas vidas para criar benefícios incessantes. A vida é muito curta e não podemos desperdiçar um único dia. Tendo feito uma conexão com esse centro ou qualquer lugar de virtude, não deveríamos perder a oportunidade para usar corpo, fala e mente para beneficiar seres porque esse é um lugar sagrado e os efeitos de qualquer ação por nós aqui realizada, virtuosa ou não virtuosa, são multiplicados. Desenvolve esforço vigoroso e persistente na prática do Dharma.

5. CONCENTRAÇÃO OU ESTABILIDADE MEDITATIVA – “SAMTEN” (tib.) "SAMADHI" ou “DIANA” (sânscr.). Centralização, limitação, absorção, aplicação. Direcionamento da mente para a meditação até que esteja totalmente imersa e absorvida nela. Qualidade estável da mente de forma unidirecionada sobre um objeto virtuoso. Significam todas as vezes que nos focamos em nossa direção e meditação no ato da oferenda e nos concentramos para não sermos levados por pensamentos comuns, praticamos a estabilidade meditativa. Reduz a confusão da mente e leva à paz e à felicidade.

6. CONHECIMENTO TRANSCENDENTAL – “SHERAB” (tib.) "PRAJNA" (sânscr.). Reconhecimento da natureza vazia de todos os fenômenos, o sabor único da vacuidade que permeia o samsara e o nirvana. Todos os fenômenos transcendem qualquer extremo imposto por palavras ou conceitos: sonho, aparição, bolha, mágica, ilusão, miragem, reflexo, eco. Sabedoria que não conceitualiza as Três Esferas. Mente "boddhi". Significa manter a visão do sabor único e puro do objeto para quem oferecemos, de nós mesmos e da substância ou esforço oferecido. Todos possuem a mesma natureza.

As Quatro Nobres Verdades são o fundamento do Budismo e entender o seu significado é essencial para o autodesenvolvimento e alcance das Seis Perfeições, que nos farão atravessar o mar da imortalidade até o nirvana. A prática dessas virtudes ajuda a eliminar ganância, raiva, imoralidade, confusão mental, estupidez e visões incorretas. As Seis Perfeições e o Nobre Caminho Óctuplo nos ensinam a alcançar o estado no qual todas as ilusões são destruídas, para que a paz e a felicidade possam ser definitivamente conquistadas. A prática das seis perfeições que trazemos para qualquer oferenda pode tornar possível um oceano de atividades iluminadas. Desenvolve o poder de discernir realidade e verdade.

No budismo mahayana, os sutras da Perfeição da Sabedoria (prajna-paramita) e o Sutra do Lótus (Saddharmapundarika) listam as "Seis Perfeições" (termos originais em sânscrito):
1. dana paramita : generosidade, doação
2. sila paramita : virtude, moralidade, conduta apropriada
3. shanti paramita : paciência, tolerância, aceitação, resistência
4. virya paramita : energia, diligência, vigor, esforço
5. dhyana paramita : meditação, concentração, contemplação
6. prajna paramita : sabedoria transcendental, insight

Vale de lágrimas?


Ao digitar estas três palavras, me veio uma oração:
"Salve Rainha, Mãe de Misericórdia, vida e doçura, esperança nossa, salve!
A vós bradamos degredados filhos de Eva.
A vós suspiramos gemendo e chorando neste vale de lágrimas.
Eia, pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei e, depois deste desterro, mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, ó doce sempre Virgem Maria."

Não posso negar que estudei em colégio de freiras, primeiro no Sion e depois no Santa Dorotéia. Isso era oração de todo dia, gente! Um jamais esquecer! O hino de Paula Frassinetti, hoje santa e fundadora da ordem das Dorotéias, sabemos de cor eu e minhas colegas e eternas amigas desde pequeninas! Um jamais esquecer das bagunças, de colar nas provas, fumar escondido no banheiro, paquerar na saída que o colégio era só de meninas.
E vem meu velho pai que, de forma alguma me aceita budista, dizer que budismo só fala em sofrimento e morte.
Que tal "agora e na hora de nossa morte. Amém", hein!?
É que ele foi coroinha - meu avô obrigava, né? - e sabe a missa toda em latim. De cor! Agora, quando ele começa com assuntos pouco agradáveis, geralmente lembrando meus dois irmãos que morreram jovens, eu começo a primeira linha da missa que é só o que sei:
- In nómine Patris, et Fillis, et Spíritus Sancti. Amén.
Aí, bem alto que ele tá ficando surdo!
- Introíbo ad altáre Dei!
E ele responde imediatamente!
- Ad Deum qui laetíficat juventútem meam!*
E vam'embora rezar a missa com o doutor Castello, gente!
*Tradução: Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Vou me aproximar do altar de Deus. Do Deus que é a alegria da minha juventude.

Voar

Vajrasatva e Dordje Niema, sua consorte.

Ah, voar pelo mundo! Voar simplesmente! Fazer a gravidade perder a sua força! Sonho muito com isso. Eu voando, entrando através da porta de uma casa, saindo pela janela, passando pelos prédios.
"Aí, um analista amigo meu" e budista como eu, disse que isso é saudades do nirvana. Ele me colocou a pensar e depois de alguns segundos perguntei-lhe: - Será?
Passa o tempo e chega um ensinamento com um lama, o chamado lama gatinho, um que se diz ser "estadunidense, pois americanos somos todos" e nos fez a gentileza maior de aprender o português com perfeição. Ah, se todos fossem iguais a você!
Comento com ele esses sonhos e ele me pergunta se faço práticas de Vajrasatva. Respondo que sim, é claro, pois faço mesmo! E ele sorri antecipando que vai me inflar o ego e diz:
- Sua prática é muito boa. Isso é sinal de realização!
Pronto! Ganhei o dia, a semana, o mês! Como se fosse uma criança, pulo de alegria na privacidade do banheiro!
Mas... "Todo aquele que nasce é impermanente e fadado a morrer." Ainda bem que a empolgação não permaneceu e atesto isso agora, nesse exato momento em que escrevo. Não me empolgo mais. Não me apeguei e isso é ótimo! Agora é desapegar do apego de me sentir feliz por ter visto que me desapeguei. Desculpem-me, estou tentando não usar gírias e/ou palavras de baixo calão, mas é foda, viu?
É, Rinpoche! Você tinha razão. No Samsara não há saída. Quero pular fora dele o mais rápido possível. Só louco prá querer continuar aqui... neste vale de lágrimas.