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sábado, 23 de maio de 2009

Vendo mobília urgente!

A impermanência faz coisas mesmo. O apego também.
Estorinha.
Quando eu tinha treze anos, meus pais me deram de presente de aniversário uma mobília de jacarandá novinha em folha. Só que, como era surpresa, - detesto surpresa - foram eles que escolheram. Uma cama larga, um criado mudo, uma penteadeira com espelho de cristal bizotado e moldura de jacarandá e uma cadeira que o encosto era igual a cabeceira e a peseira da cama.
Até aí tudo bem. Antigamente, né, as pessoas ainda moravam em casas, meu quarto era grande, uns quatro por quatro mais ou menos e tudo cabia direitinho e ainda sobrava espaço para uma prateleirinha também de jacarandá, uma prancheta e uma mesa de trabalho.
Depois de quatro anos de curso superior, me formei em decoração de interiores aos vinte e cinco, me casei aos vinte e seis e carreguei a mobília toda do quarto comigo para o nosso apartamento novinho e feito sob medida porque ainda era uma decoradora exercendo a profissão na maior empolgação!
Coloquei a mobília no quarto de hóspedes. Mas aí, só coube a cama, o criado, a penteadeira com a cadeira e o espelho e a mesa de trabalho um pouquinho atravancados. Sai a prancheta com o banquinho pro quarto que era minha oficina de trabalho. Dava prá levar.
Nasce filha, tira a mesa de trabalho, põe o berço. Nascem mais dois filhos, fica berço, compra um beliche e uma cômoda e tira a tal da mobília, põe no quarto que era a minha oficina de artesanato, decoração e costura. Já era!
Os filhos cresceram. Cresceram mesmo, viraram adultos e cada um quer seu quarto. Até o da empregada foi tomado!
E a mobília? Minha filha odeia! Já deu até briga! Quer porque quer vender e comprar uma da Tok Stok ou similar. Mas quem vai dar o que a mobília vale?
Então taca a correr atrás prá vender uma mobília antiga de jacarandá maciço feita por um artista que até já morreu prá comprar móveis retinhos e branquinhos da Tok Stok ou similar. Até o taco do chão ela quer pintar de branco.
E aí? Alguém se interessa? Tô vendendo porque a impermanência se interpôs e o apego? Quero não!

Moça da Gol

A estória é manjada, mas tem sempre gente que não sabe. E é engraçada mesmo. Vamo lá!

COMO TRATAR AS PESSOAS GROSSAS

Para todos os que têm de tratar com clientes irritantes, ou com pessoas que se acham superiores aos outros, aprendam com a funcionária da GOL. Destrua um ignorante sendo original, como ela foi.

Uma funcionária da GOL, no aeroporto de Congonhas, São Paulo, deveria ganhar um prêmio por ter sido esperta, divertida e ter atingido seu objetivo, quando teve que lidar com um passageiro que, provavelmente, merecia voar junto com a bagagem...

Um vôo lotado da GOL foi cancelado. Uma única funcionária atendia e tentava resolver o problema de uma longa fila de passageiros.
De repente, um passageiro irritado cortou toda a fila até o balcão, atirou o bilhete e disse:
- Eu tenho que estar neste vôo, e tem que ser na primeira classe!
A funcionária respondeu:
- O senhor me desculpe, terei todo o prazer em ajudar, mas tenho que atender estas pessoas primeiro, já que elas também estão aguardando pacientemente na fila. Quando chegar a sua vez, farei tudo para poder satisfazê-lo.
O passageiro ficou irredutível e disse, bastante alto para que todos na fila ouvissem:
- Você faz alguma idéia de quem eu sou?
Sem hesitar, a funcionária sorriu, pediu um instante e pegou no microfone anunciando:
- Posso ter um minuto da atenção dos senhores, por favor? (a voz ecoou por todo o terminal). E continuou:- Nós temos aqui no balcão um passageiro que não sabe quem é, deve estar perdido... Se alguém é responsável por ele, ou é parente, ou então puder ajudá-lo a descobrir a sua identidade, favor comparecer aqui no balcão da GOL. Obrigada.
Com as pessoas atrás dele gargalhando histericamente, o homem olhou furiosamente para a funcionária, rangeu os dentes e disse, gritando:
- Eu vou te foder!
Sem recuar, ela sorriu e disse:
- Desculpe, meu senhor, mas mesmo para isso, o senhor vai ter que esperar na fila; tem muita gente querendo o mesmo...

İManos arriba! İEsto és um assalto!

Pois é. Tentaram me assaltar. Eu estava indo para uma palestra da Lama Tsering lá na sala do budismo. Eu vou a pé, que tenho carro, não, e é muito mais perto.

Então. Foi dia 30 de abril, véspera do 1º de maio e o trânsito estava tão engarrafado que eu chegava antes dos carros! Quando cheguei quase na esquina da Major Lopes, pula na minha frente um galalau de um metro e oitenta, meio claro, tipo o que chamam de nego-aço e diz:

-Aí, tia! me dá o celular! E num grita, não, senão te dou um tiro! Anda, tia! O celular!

Eu olhei bem nos olhos dele e, com um sorriso idiota de quem não se dá conta do que está acontecendo, disse:

-Ô, meu filho, tenho celular não...

E não tinha mesmo, estava só com a chave de casa e uma caneta e caderneta pra anotar. Aí, continuando com o sorriso idiota e sem perder o contato visual, falei toda animadinha:

- Aqui! Eu tô indo pro BUDISMO!

Falei bem articulado que eles acham que é coisa do demo enquanto, pela minha visão periférica, já via um cara no congestionamento abrindo a porta do carro prá me acudir. Não precisou. Continuei.

- Não quer ir comigo, não? Vou rezar! Vamo rezar comigo? Qué não?

O malaco deu um pulo no olhar, sabe, aqueles de recuo e disse:

- Não! Beleza, tia! Tá liberado!

E cascou fora fazendo o tal do liberado prá mim com o polegar prá cima!

Quem não deve ter entendido nada foi o cara do congestionamento, enquanto eu tinha um ataque de risos até chegar no budismo!

Várias versões:
Do pessoal viajandão do budismo: - Ah, deve ser a sua energia búdica!

Tá, viu? Energia eu tava era de dar um chute no saco do cara!

Do pessoal não-viajandão do budismo: - O assalto demorou muito e o cara desistiu.

Versão minha e dos porteiros do prédio:

1) Eu conheço o cara do morro de tanto ficar na porta do prédio e ele me reconheceu.
2) Contato visual é perigoso, mas, às vezes, com o olhar de "tia" idiota e chamando o cara de "ô, meu filho", ele desistiu.
3) Sem dúvida, a palavra BUDISMO funciona.
4) E ele tava armado coisa nenhuma!

Uma coisa eu tenho certeza. Assim como a moça da Gol, tem que ter calma e presença de espírito! Conhece a moça da Gol, não? Já-já eu conto.